MAZELAS DA JUSTIÇA

Neste blog você vai conhecer as mazelas que impedem a JUSTIÇA BRASILEIRA de desembainhar a espada da severidade da justiça para cumprir sua função precípua da aplicação coativa das leis para que as leis, o direito, a justiça, as instituições e a autoridade sejam respeitadas. Sem justiça, as leis não são aplicadas e deixam de existir na prática. Sem justiça, qualquer nação democrática capitula diante de ditadores, corruptos, traficantes, mafiosos, rebeldes, justiceiros, imorais e oportunistas. Está na hora da Justiça exercer seus deveres para com o povo, praticar suas virtudes e fazer respeitar as leis e o direito neste país. Só uma justiça forte, coativa, proba, célere, séria, confiável, envolvida como Poder de Estado constituído, integrada ao Sistema de Justiça Criminal e comprometida com o Estado Democrático de Direito, será capaz de defender e garantir a vida humana, os direitos, os bens públicos, a moralidade, a igualdade, os princípios, os valores, a ordem pública e o direito de todos à segurança pública.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ENFRAQUECIMENTO DO JUDICIÁRIO


ENTREVISTA - “Houve enfraquecimento do Judiciário”. Gilson Dipp, Ex-corregedor nacional de Justiça e ministro do STJ. Nesta entrevista, Dipp fala sobre a briga no Judiciário- Carlos Rollsing, Zero Hora, 27/12/2011

Zero Hora – O que a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estava se propondo a investigar? Há relação com o pagamento de auxílio-moradia, que foi considerado um direito dos magistrados?

Gilson Dipp – Não tem nada a ver com isso. Quando se começou a fazer inspeções dentro dos tribunais, era para ter o controle administrativo, financeiro, orçamentário e disciplinar. São examinadas as regularidades dos procedimentos, como quantos cargos de confiança existem, se há concurso público em andamento, se temos juízes em todas as comarcas. E também se examina, no aspecto administrativo, se os tribunais estão obedecendo a regra do nepotismo, a regra do pagamento dentro do teto (salarial). Porque há muitas irregularidades em pagamentos fora do teto, diárias pagas de maneira irregular ou errada e má aplicação de índices de correção monetária.

ZH – Foram essas informações que o CNJ buscou ao fazer pedido para o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)?

Dipp – Os tribunais não tinham essas informações. Os juízes têm obrigação de mandar a declaração de bens, o imposto de renda, como todos os funcionários públicos. Eles tinham de apresentar aos tribunais. Isso é lei. Mas, em alguns tribunais, os juízes não mandavam. E os tribunais não cobravam. Face à deficiência nos tribunais, foi pedido a um órgão do Ministério da Fazenda, o Coaf, a relação de operações financeiras tidas como atípicas. Aquelas movimentações em valores maiores do que é compatível com os rendimentos.

ZH – As reações aos atos da corregedora Eliana Calmon estão vindo principalmente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Qual o motivo?

Dipp – O tribunal de São Paulo sempre foi um tribunal com menos poder de gestão, com menos planejamento, até pelo seu gigantismo. Os juízes tinham um passivo grande a ser recebido. Todos eles. Os servidores também. Quando se anunciou a inspeção, houve essa reação por motivos óbvios. O presidente do CNJ é de São Paulo (Cezar Peluso), o presidente da AMB (Nelson Calandra, da Associação dos Magistrados Brasileiros) é do TJ de São Paulo.

ZH – Magistrados originários de SP estariam se protegendo?

Dipp – Ela (Eliana Calmon) anunciou que começaria (a inspeção) por São Paulo. Se ela dissesse que começaria pelo Piauí ou pela Paraíba, isso não daria problema nenhum. Talvez a inabilidade dela tenha sido anunciar que começaria por São Paulo. Aí as forças conservadoras reagiram. Isso é consenso geral entre os magistrados. Pelo que eu leio nos jornais, lá tem 353 desembargadores e não sei quantos juízes, mas apenas 17 desembargadores tiveram os atrasados devidos pagos de uma vez só. Ou seja, houve, em princípio, uma violação da impessoalidade. Alguns foram pagos de forma mais benéfica do que outros. Mas ninguém foi acusado ou investigado. É uma inspeção de rotina.

ZH – Então o foco do problema está no TJ de São Paulo?

Dipp – O tribunal de São Paulo é conservador. Pelo seu gigantismo, pela sua falta de planejamento, pela sua falta de gestão, eles (magistrados) mesmos ficam constrangidos porque sabem das suas deficiências. Em São Paulo, desde a criação do CNJ, há um histórico de que o tribunal sempre foi o mais refratário ao controle do CNJ. Isso não é de hoje. É de 2004.

ZH – O Judiciário não gosta de ser fiscalizado?

Dipp – É claro que não gosta. Nunca ninguém prestou contas de nada. O CNJ determina que os tribunais prestem contas. Tudo isso nunca houve no Judiciário.

ZH – O episódio colocou em lados opostos o presidente do STF e do CNJ, Cezar Peluso, e a corregedora Eliana Calmon. O alto escalão do Judiciário está rachado?

Dipp – Houve uma divisão interna no Conselho e no Supremo. Não há entendimento entre o presidente, a corregedora e os conselheiros. Esse desentendimento propiciou que as associações (de magistrados) se encorajassem e voltassem a carga contra o CNJ. É um problema político. Mas a reação pública em favor do CNJ é algo que nunca vi na minha vida. Então, alguma coisa está errada.

ZH – Quais os motivos da briga?

Dipp – Primeiro porque o que pensa o presidente não é o que pensa a corregedora. São estilos diferentes. Uma (Eliana Calmon) é agressiva e gosta de polêmica. O outro (Cezar Peluso) é conservador, vem de São Paulo. E com isso muitas atitudes da Corregedoria não agradavam ao presidente e vice-versa. Faltou diálogo. E os conselheiros também se dividiram. Nessa última composição, alguns conselheiros foram eleitos pelas instituições me parece que para defender certas teses, certos posicionamentos, e não defender a própria instituição que eles integram, que é o CNJ.

ZH – Como o Judiciário vai ficar depois dessa crise?

Dipp – 90% do Judiciário se acostumou com as boas práticas e sabe que isso é necessário até para se ter credibilidade com a sociedade. Mas hoje, com essa briga interna, se enfraqueceu o CNJ, se enfraqueceu o Supremo, e isso é grave. Houve enfraquecimento do Judiciário. É só ver a reação da sociedade. Mas acho que ao fim e ao cabo, com todas essas divisões, quem sai fortalecido são o CNJ e as suas atribuições.

ZH – A corregedora diz que estão querendo fazer um linchamento público e moral dela para enfraquecer as atribuições do CNJ. O senhor concorda?

Dipp – Acho que ela é a bola da vez. Ela se expôs muito. Essa reação contra ela acabou fazendo dela uma heroína nacional. E de heroína não tem nada. Ela simplesmente está cumprindo o mínimo que é de sua competência, mas é mulher. Criaram exatamente uma reação contrária a tudo que preconizavam.

ZH – Qual a sua opinião sobre as liminares concedidas pelo STF que restringiram o poder de fiscalização do CNJ e que cancelaram averiguações que estavam em andamento?

Dipp – O que há são medidas liminares concedidas dentro de um período nebuloso (no último dia antes do recesso). E talvez as pessoas não tivessem pensado na repercussão negativa disso tudo.

ZH – E sobre o mérito dessas liminares?

Dipp – Estou questionando a oportunidade das liminares. Quem deu as liminares deve ter tido a convicção de que era uma urgência urgentíssima. Sobre o mérito, não tenho a menor ideia. Mas que o STF está numa camisa de força, isso está.

ZH – Essas fiscalizações do CNJ envolveram ministros do STF?

Dipp – O STF não está sujeito à fiscalização do CNJ.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Este depoimento só vem a corroborar com o que venho anunciando desde que escrevi o livro "Ordem(Justiça) e Liberdade" em 2006, denunciando a falência do sistema de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, onde o papel do Judiciário é preponderante e essencial. Na obra, denunciei a morosidade e o descomprometimento do Poder Judiciário, a constituição corporativa, o jogo de empurra e o descrédito nos Poderes. Estes assuntos tiveram continuidade na coleta de matérias inseridas no site "Ordem e Liberdade" e que estão sendo tratados com mais profundidade e focalizado na justiça no Blog "Mazelas do Judiciário", criado em março de 2009 com a seguinte postagem:

http://mazelasdojudiciario.blogspot.com/2009/03/funcao-precipua-aplicacao-coativa-da.html

Ou o Brasil reforma a estrutura, a gestão e a postura das justiça brasileira, ou os bandidos (criminosos, corruptos e oportunistas) irão tomar conta das ruas, dos lares, da economia e dos recursos públicos. O Poder Judiciário é o pilar que sustenta as leis e garante probidade numa democracia. O descrédito neste poder faz o pode corromper, a impunidade avançar, os crimes compensarem e os recursos públicos se esvairem por desvios, ganancia, mau uso e desperdício.

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