MAZELAS DA JUSTIÇA

Neste blog você vai conhecer as mazelas que impedem a JUSTIÇA BRASILEIRA de desembainhar a espada da severidade da justiça para cumprir sua função precípua da aplicação coativa das leis para que as leis, o direito, a justiça, as instituições e a autoridade sejam respeitadas. Sem justiça, as leis não são aplicadas e deixam de existir na prática. Sem justiça, qualquer nação democrática capitula diante de ditadores, corruptos, traficantes, mafiosos, rebeldes, justiceiros, imorais e oportunistas. Está na hora da Justiça exercer seus deveres para com o povo, praticar suas virtudes e fazer respeitar as leis e o direito neste país. Só uma justiça forte, coativa, proba, célere, séria, confiável, envolvida como Poder de Estado constituído, integrada ao Sistema de Justiça Criminal e comprometida com o Estado Democrático de Direito, será capaz de defender e garantir a vida humana, os direitos, os bens públicos, a moralidade, a igualdade, os princípios, os valores, a ordem pública e o direito de todos à segurança pública.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

DO INSULTO À INJÚRIA - NÃO SE ESQUEÇA DE PATRÍCIA ACIOLI -


DO INSULTO À INJÚRIA - 13 agosto 2011 às 18:08

Pouco mais de 24 horas se passaram desde que a juíza Patrícia Lourival Accioli foi chacinada. Quando se pensava que a covardia desse ato ficaria restrita a ele próprio – um insulto em forma de cusparada de sangue na cara do país -, se vê a ele somada a injúria da empáfia das autoridades públicas, especialmente as do Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

O atual presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro se apressa em justificar o injustificável: o motivo para uma juíza que até as paredes do fórum de São Gonçalo sabiam ameaçada de morte estar completamente à mercê de seus matadores é singelo: ela não requisitara proteção, por ofício. Não obstante, sem ofício, ou melhor, de ofício, sua segurança, conforme avaliação (feita por quem? com base em que critérios?) do próprio tribunal, havia minguado na proporção inversa do perigo a q ue a juíza diariamente se via submetida.

Fica, assim, solucionado o crime: Patrícia cometeu suicídio. Foi atingida por si mesma, 21 vezes, vítima de sua caneta perdida, que se encontrava a desperdiçar tempo mandando para a cadeia milicianos e todo tipo de escória que cresce à sombra do Estado, de sua corrupção e de sua inoperância. Patrícia era uma incompetente, uma servidora pública incapaz de fazer um ofício! Não é isso que o senhor quer dizer, Presidente?

Que vergonha, Exa.! Por que no te callas? Melhor: renuncie ao seu cargo. No mínimo será muito difícil seguir à frente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com a morte de Patrícia em suas costas. Ela está agarrada ao seu corpo e ao do seu antecessor, como uma chaga pestilenta. Sua permanência no ambiente dá asco e ânsia de vômito.

Qualquer pessoa que assistisse ao noticiário televisivo, que lesse jornal ou que tivesse acesso a algum out ro veículo de imprensa nacional tinha conhecimento da situação de Patrícia e de que sua vida estava em risco. Não a Presidência do TJRJ. Segundo palavras do ex-presidente daquele órgão, seu único contato com a juíza se deu numa ocasião em que esta por ele foi chamada para prestar esclarecimentos a respeito de um entrevero que tivera com um namorado. O fato chegou às folhas e S. Exa., o então Chefe do Judiciário, se sentia no dever de agir logo, chamando às falas (sem ofício) a subordinada que colocava em cheque a imagem do Poder por ele gerido. Mas, para proteger a vida de Patrícia – ah, aí é querer muito! – era fundamental um ofício!

E fico a pensar: em quantas vias? 21? As cópias deveriam ser em carbono azul ou seria possível usar um modelo vermelho sangue? Era necessário que a magistrada juntasse ao expediente um mapa com a localização do Fórum de São Gonçalo, talvez? Ou um comprovante de residência? Atestado de bons antecedent es? Declaração dos futuros assassinos afirmando que a ameaça era real (a lista encontrada com o “Gordinho” não tinha firma reconhecida, nem era autenticada, afinal).

Não tentem ler a minha mente, sem antes chamar um exorcista.

Magistrados de primeira instância, uni-vos! Vossa integridade física está à mercê da fortuna. Vossa vida a depender de uma folha de papel. Vossas famílias nas mãos de mentecaptos.

Marginais e milicianos em geral devem estar com a dentadura escancarada num esgar de romance policial. Bastaram duas motos, dois carros, um bando de vermes, 21 tiros e poucos segundos para derrubar o castelo de cartas que era a imagem da Justiça no Estado do Rio. Com tão pouco se revelou a podridão de um reino de faz-de-conta, o que contrasta com o quanto foi necessário para liquidar uma mulher só.

Um Poder sem força, sem visão, sem preparo; um setor do serviço público que se transformou, em verdade, num a grande empreiteira; quando não em um balcão de negócios (quebre-se o silêncio!).

É inacreditável que a mais alta autoridade judicial do Estado sequer ruborize ao dizer que a proteção de uma juíza comprovadamente listada como alvo da milícia dependia de um pedido escrito. A declaração do magistrado-mor revela aos interessados em seguir matando juízes que o “Poder” por ele administrado não tem a menor ideia da realidade enfrentada pelos julgadores de primeira instância. Precisa ser provocado, cutucado, instado. O pleito de auxílio aos que dele carecem deve passar por um processo, um crivo que, como se viu, é muito eficiente, se o resultado perseguido for a eliminação daquele que precisa ser protegido. O Judiciário não realiza, por sua conta, qualquer controle, não mantém investigação permanente, não monitora seus inimigos: é um Poder-banana.

Os juízes de direito, de agora em diante, se transformaram na versão nacional do dad man walking (expressão gritada pelos guardas quando acompanham os sentenciados até o local da execução, nos presídios com corredor-da-morte, nos EUA). Os próximos serão os promotores, os delegados de polícia (os agentes penitenciários já são eliminados de há muito, assim como os jornalistas), os homens de confiança do Secretário de Segurança e este mesmo. Governador, tremei. Quem há-de impedir que isso ocorra?

A temporada de caça está aberta. A porta do Judiciário era sem trinco e agora não adianta colocá-lo. Tarde demais. Até que a Justiça se mova e organize um sistema de autodefesa pró-ativo (e não movido à base de papeluchos), muitos perderão a vida. O crime não precisa se organizar. Basta conhecer o endereço do juiz, discando 102.

Pior: doravante, será mais do que suficiente um olhar de soslaio do réu para que o juiz assine – trêmulo, mas de pronto – o alvará de soltura. Eu, no lugar de qualquer del es, assinaria. Você não?

Bem-vindos à terra sem lei, sem vergonha e sem senso de ridículo.

Não se esqueçam de Patrícia Accioli!

PUBLICADO NO BLOG DO AUTOR: http://www.blogdosirodarlan.com/?p=130


A EXECUÇÃO DA JUÍZA PATRÍCIA ACIOLI E A INDIGNAÇÃO DO DESEMBARGADOR SIRO DARLAN - PEDRO PORFÍRIO, 18/08/2011

Há muito mais pólvora do que se imagina nos 21 tiros que alvejaram a magistrada


"Doravante, será mais do que suficiente um olhar de soslaio do réu para que o juiz assine - trêmulo, mas de pronto - o alvará de soltura. Eu, no lugar de qualquer deles, assinaria. Você não?". Desembargador Siro Darlan de Oliveira, da 7ª Câmara Criminal do Rio de Janeiro.

Desde sexta-feira passada estou tentando escrever sobre um dos mais escabrosos episódios da rotina tétrica de impunidade incrementada por todo um misterioso complexo criminoso, no qual as chamadas milícias são apenas sua expressão mais grosseira.

Com a experiência de 50 anos reportando os fatos, reuni tantas informações e cheguei a tais conclusões que acabei abatido por um estranho sentimento da inutilidade de pôr tudo no papel.

Vi-me mais uma vez impulsionado a cutucar uma penca de onças com varas curtas. Mas os cabelos brancos interferiram no pulsar do meu cérebro nervoso e alcançaram seus recônditos com uma carga pesada de entorpecimento. De que adiantaria ir fundo para oferecer uma peça acusatória que iria muito além da investigação policial em curso?

Procedimentos recentes no âmbito do Judiciário sugerem uma lógica inibidora. Não me sint o em condições de ousar mostrar as vísceras de um estranho mundo, cuja deformação ameaça o que se chama sem convicção de estado de direito.

Porque a salva de 21 tiros que prostrou Patrícia Accioli, a juíza de verdade, partiu de muitos gatilhos. Não foi por acaso que dispararam tantas balas. Não pretendiam apenas matar uma magistrada corajosa - a fartura mortífera alcançaria - como alcançou - toda uma sociedade em sobressalto, repassando um recado aterrorizante assinado por um amplo espectro criminoso.

Nas minhas pesquisas, as declarações do desembargador Rogério de Oliveira Souza, um dos magistrados mais brilhantes e dignos do Tribunal de Justiça fluminense, tornou-se uma referência. Ele lembrou que há um ano e meio a juíza Patrícia Accioli esteve no Gabinete do então presidente do TJ, desembargador Luiz Zveiter, para pedir o restabelecimento de uma escolta que lhe foi tirada em 2007.

A partir daí, a polêmica sobre a omissão do presidente e os fatos rela cionados com o abandono da juíza, literalmente entregue às feras, passou a ocupar o noticiário com inevitável ênfase. Já se sabe hoje de boa parte da verdade que fez dessa juíza uma solitária combatente do crime organizado, sem cobertura dos seus superiores.

Algo que se traduz num patético exercício da teimosia quixotesca.

Hoje, porém, senti-me encorajado a tentar reproduzir o clima de revolta e insegurança que o assassinato de Patrícia Accioli, a juíza de verdade, disseminou.

Mas, daqui para frente, vou preferir levar ao seu conhecimento uma das obras mais corajosas e lúcidas escritas a respeito. Refiro-me ao artigo do desembargador Ciro Darlan, outro admirável magistrado, que expôs sua indignação com a autoridade de um verdadeiro paladino do direito e da verdade, cuja trajetória aprendemos a respeitar desde sua emblemática atuação como juiz da Infância e da Adolescência.

O que ele escreveu, sim, pode ser o resgate da esperança no Poder Judiciár io, ainda que tímida esperança. Porque, como ele, outros magistrados estarão refletindo sobre esse ambiente sórdido que permitiu a execução sumária da juíza criminal de São Gonçalo.


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