ZERO HORA 06 de junho de 2012
Capital é uma das mais tolerantes à vingança - KAMILA ALMEIDA
Estudo da Universidade de São Paulo mostra aceitação acima da média nacional a reações ao crime
Um estudo divulgado ontem pela Universidade de São Paulo (USP) aponta indícios que colocam a população de Porto Alegre entre as mais intolerantes do país. Apoio a alguns tipos de agressões e um certo perfil bélico delineiam uma sociedade um tanto aguerrida. Os resultados, que colocam a Capital acima da média nacional em muitos quesitos que têm a aprovação da violência como senso de justiça, surpreenderam os pesquisadores paulistas.
Em levantamento de 1999, 73% dos porto-alegrenses discordavam de que, se as autoridades falhassem, o certo seria tomar providências. Em 2010, o índice caiu para 42%.
– Em termos de atitude, algumas coisas em Porto Alegre fogem à ideia que tínhamos da cidade – comenta a psicóloga social Nancy Cardia, coordenadora da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar sobre Atitudes, Normas Culturais e Valores em Relação à Violação de Direitos Humanos e Violência, que incluiu 11 cidades.
Quando Porto Alegre não está no topo em atitudes consideradas pouco civilizadas, figura entre as primeiras quando o assunto é revidar à violência. Por exemplo: 10,8% dos entrevistados responderam que a polícia poderia dar choque e queimar com ponta de cigarro suspeitos de sequestro e de estupro – o que representa mais que o dobro da média nacional. E mais: quase a metade gostaria que estuprador tivesse pena de morte.
Porto Alegre também está entre aquelas que mais aprovam as armas como um instrumento de defesa, ultrapassando o dobro da média nacional. Ao todo, 36,8% concordam que ter uma arma deixava a residência mais segura e 39,72% disseram que andar armado fazia com que o indivíduo se sentisse mais seguro. Nesse segundo item, o universo de adeptos à ideia quase dobrou desde 1999.
– Essa crença na arma cresceu mesmo com todas campanhas de desarmamento. Não seria estranho se fosse em um meio urbano muito influenciado pelo rural, que tem mais essa ideia da autodefesa, de polícia escassa – destacou Nancy.
Herança histórica justificaria posicionamento da população
Para a socióloga integrante do núcleo de pesquisas sobre Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Letícia Maria Schabbach, os dados do Sul são contraditórios. Ela acredita que parte dessa tendência à vingança tenha a ver com o fato de historicamente o Estado adotar uma posição de resolver conflitos sem buscar intermediários. Mas também aponta para atitudes positivas como o fato de rejeitar a punição de inocentes por 57% dos entrevistados, ocupando a liderança, e o fato de estar entre as Capitais que demonstraram ter pessoas que menos apanharam na infância.
Porto Alegre é a 3ª no país em sensação de violência
Quando questionado sobre atos de violência que sofreu nos últimos 12 meses, as respostas dos porto-alegrenses configuraram uma forte queda em quase todos os tipos abordados em 2010, como ferimento por arma de fogo e assassinato de parentes próximos. As exceções foram agressão verbal e exposição às drogas.
Entretanto a sensação de violência está entre as mais altas do país. Em 2010, esta era a percepção de 81,8% dos entrevistados, a terceira mais elevada entre as capitais pesquisadas.
– A percepção da violência pode estar ou não relacionada com existir o crime. A sensação tem mais a ver com uma questão cultural. Participei de uma pesquisa na Vila Bom Jesus, na Capital, que tem os maiores índices de criminalidade. Lá as pessoas dizem se sentir seguras – explicou a socióloga gaúcha Letícia Schabbach.
O questionário foi aplicado em 1999 em 10 capitais, como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Belém, Manaus, Porto Velho e Goiânia. Em 2010, uma versão ampliada do material foi reaplicada, incluindo Fortaleza.
Conforme o grupo de estudos, o trabalho pode ajudar na identificação e desenvolvimento de programas de prevenção à violência e de campanhas educativas para minimizar os efeitos e riscos da violência, além de sensibilizar as instituições públicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário