REVISTA ISTO É, N° Edição: 2223, 18.Jun.12 - 15:17
O ex-ministro contrata um batalhão de advogados e assessores, vai municiar as redes sociais e articula manifestações de apoio para enfrentar o julgamento no STF
Sérgio PardellasAPELO ÀS RUAS
Dirceu convoca sindicalistas e estudantes
para pressionar por sua absolvição
Quem comanda a defesa de Dirceu é José Luiz Oliveira Lima, dono de um escritório com 11 advogados, localizado no 32º andar do prestigiado Edifício 50, na Avenida São Luiz, em São Paulo. Aos 45 anos, Juca, como gosta de ser chamado, especializou-se em Direito Penal, especialmente em delitos tributários. Já defendeu o banqueiro Daniel Dantas, acusado de lavagem de dinheiro e crime financeiro. Também teve entre seus clientes famosos o ex-banqueiro italiano Salvatore Cacciola. Embora esteja ao lado de Dirceu desde 2005, Juca pretende, com a iminência do julgamento, intensificar seu trabalho. “A partir de agosto, terei de ficar mais tempo em Brasília”, contou à ISTOÉ. O advogado diz estar seguro de que não há provas suficientes para condenar seu cliente. “As alegações finais apresentadas pelo Ministério Público nada mais são do que uma peça de ficção, pois em nenhum momento apontam de maneira concreta, baseada em provas, os motivos que justificariam a condenação do ex-ministro”, defende o advogado.
Para espalhar essas ideias da defesa pelo País, José Dirceu age em várias frentes. Uma das batalhas acontecerá nas redes de relacionamento. Ele contratou uma firma de ativistas digitais, a Interagentes, que está encarregada de disseminar pela internet argumentos por sua absolvição, tentando conquistar formadores de opinião. Velha conhecida das correntes de esquerda, a Interagentes já fez trabalhos para o PT e se compromete a travar uma “guerrilha virtual” por intermédio do twitter e do facebook. A frente de comunicação foi reforçada com a contratação do jornalista Luiz Fernando Rila, que se licenciou da empresa FSB para assessorar exclusivamente o ex-ministro durante o julgamento do mensalão. Desde o fim do último mês, Rila tem feito a “ponte” de José Dirceu com a imprensa. Ao seu lado, trabalha Edmilson Machado, afastado da empresa Máquina da Notícia para dedicar-se a Dirceu. Os dois unem-se a Aristeu Moreira, responsável há dois anos pelo blog do ex-ministro. Machado acompanha o noticiário e organiza os discursos do ex-ministro. Caberá a ele também coordenar as redes sociais. “Faremos uma disseminação de conteúdo”, diz Machado.
Uma das primeiras tarefas da nova equipe contratada pelo petista foi estreitar as relações de Dirceu com sindicalistas, artistas, intelectuais e organizações estudantis. Nos próximos dias, Dirceu participará de um encontro no Rio de Janeiro com intelectuais e gente do meio artístico. O evento é organizado pelo produtor cinematográfico, Luiz Carlos Barreto, amigo de longa data de Dirceu, e por Flora Gil, mulher do cantor e ex-ministro Gilberto Gil. O ex-ministro pretende transformar a reunião num ato público de apoio, insistindo na tese de que é alvo de um processo político e não jurídico. O discurso é antigo, mas passará a ser entoado com mais força com a proximidade do julgamento no STF. Os convidados ainda receberão um CD contendo o resumo das acusações, provas produzidas e argumentos da defesa de José Dirceu no processo. Outra reunião, prevista para ocorrer no próximo mês, está sendo articulada a pedido de Dirceu com a “turma de Ibiúna”, composta por militantes que foram presos juntos com ele durante o 30º Congresso da UNE em 1968, em Ibiúna, cidade da região metropolitana de São Paulo. “Não sou PT, sou amigo do Zé”, justificou o médico homeopata, Luiz Bettarello, um dos integrantes da turma. “Vamos nos solidarizar e buscar ampliar apoio”. Bettarello diz acreditar na inocência do amigo. “Não há provas contra ele”, defende.
"A gente dá oi pro Zé e o Zé já fala em jugamento"
Devanir Ribeiro, deputado federal pelo PT-SP
De maneira mais discreta, o petista já havia pregado a mobilização em favor de sua absolvição no STF em pelo menos outras três reuniões. Em Porto Alegre, há duas semanas, ao lado de integrantes do diretório nacional do PT, e em Brasília e no Rio de Janeiro, durante congresso da CUT. Como contou um sindicalista ligado aos bancários que participou de uma dessas reuniões, Dirceu prega que o caso do mensalão “não passa de uma luta por espaço político” e que os petistas não podem “baixar a guarda”. Em um seminário realizado pela turma de Direito da USP, do Largo São Francisco, no dia 30 de maio, coordenado pelo jurista Dalmo Dallari, o tema “influência da mídia nos julgamentos” foi abordado e o evento acabou se transformando num ato de apoio a Dirceu, que, por problemas de agenda, não esteve presente. Por intermédio de sua assessoria, porém, Dirceu negou que tivesse organizado o seminário. Ele também nega que os atos de apoio, ainda por vir, sejam parte integrante de sua estratégia para escapar da condenação.
As negativas se explicam. Nos últimos dias, Dirceu foi aconselhado por assessores a evitar, por ora, o tema manifestações públicas, devido à repercussão negativa já provocada pelo discurso incendiário feito para os estudantes. A agenda dos próximos encontros está mantida, mas os eventos serão tratados como discretos e reservados. “A repercussão do evento da Juventude Socialista acabou sendo muito ruim”, admite um petista ligado ao ex-ministro. A história, inclusive, ensina que convocações desse porte podem sair de controle e até se tornarem um tiro no pé. Em 1992, o então presidente da República Fernando Collor de Mello, enfrentando as acusações que levariam a seu impeachment, conclamou a população a sair às ruas vestida de verde e amarelo, em sinal de apoio. O que se viu, no entanto, foi justamente o contrário: a maioria dos brasileiros preferiu o preto, como forma de protesto. A prudência do PT também é motivada pela constatação de que, embora o ex-ministro mantenha grande a influência na cúpula petista, ele não controla mais a máquina partidária como antes. Dirceu, com seu estilo centralizador, deixou ressentimentos dentro do PT e não teria mais condições de arrastar às ruas um contingente expressivo de militantes leais. O assunto é evitado pelos cardeais petistas. “Não penso nada a respeito de qualquer tipo de pressão que o Zé Dirceu possa fazer. Na verdade, prefiro mesmo é ficar longe desse assunto”, esquiva-se o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP).
A própria linha de defesa de Dirceu também provocou insatisfação, principalmente entre petistas ligados aos demais réus do mensalão. Nas alegações finais de um documento de 160 páginas produzido no final do ano passado, José Dirceu afirma que, depois de ter virado ministro, afastou-se da gestão do PT, o que, portanto, o livra de qualquer responsabilidade pelo que fez o partido. Com os argumentos para negação de autoria, a defesa do ex- ministro repassa a culpa pelo que a Procuradoria da República chamou de “compra sistemática de apoio de deputados federais ao governo Lula”, para o colo do ex-presidente da legenda, José Genoino, e do ex-tesoureiro Delúbio Soares. “A defesa jogou contra os outros petistas envolvidos no processo e por isso não há disposição de ajudá-lo agora”, reconhece o advogado de um dos mensaleiros acusados. Ao que parece, somente os réus unidos seriam capazes de encher vários ônibus de militantes e colocá-los em frente ao STF, como ameaçou Dirceu no comício para os estudantes.
CHURRASCOS
Dirceu definiu a linha de sua defesa em reuniões
com amigos em sua casa em Vinhedo
"O juiz está acima das manifestações"
Marco Aurélio Mello, ministro do STF
Nenhum comentário:
Postar um comentário