PAULO SANT’ANA
Refletindo melhor, foi brilhante a atitude do ministro Celso de Mello ao dar voto decisivo a favor dos mensaleiros pelos embargos infringentes.
Ele conseguiu jogar para a plateia antes, quando condenou rigorosamente todos os mensaleiros, inclusive José Dirceu, mas também agora jogou para adular o poder, decidindo com seu voto que o julgamento vai para as calendas, não haverá mais justiça.
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Precisa ser mestre para fazer o que Celso de Mello fez: com uma mão agradou aos cidadãos que clamam por justiça, com a outra afagou os poderosos, que só sobrevivem com base na injustiça.
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O ministro Celso de Mello e o Supremo Tribunal Federal nos enganaram muito bem com um excelente jogo duplo. São mestres na cena oblíqua de agradar ao mesmo tempo aos vassalos integrantes da opinião pública e aos senhores do poder que se banham nas águas cálidas da impunidade.
Esse gesto do ministro Celso de Mello e do STF carrega o dom da ventriloquia, agrada à plateia e aos donos do teatro ao mesmo tempo, dá uma martelada no prego e outra na ferradura, magistral prestidigitação!
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Eu, veterano otário, por exemplo, saio realizado e contente com essa pantomima: exultei com a falsa condenação dos poderosos.
E os poderosos, logo em seguida, exultaram com a clemência da procrastinação embromada e inocentatória dos embargos infringentes, no cerne absolutório.
Foram perfeitas a tragédia e a comédia engendradas e encenadas pelo veterano ministro Celso de Mello e pelo STF.
Descansam em paz os mensaleiros principais que não vão para a cadeia. Descansa em paz a opinião pública que imaginou que se fez justiça ao serem condenados interinamente os mensaleiros.
Só não descansa em paz a Justiça como instituição, que fica com a fama de continuar a não fazer justiça.
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Foram quase R$ 180 milhões que foram para os bolsos dos mensaleiros, furtados da bolsa popular e que agora, num passe de mágica, sumiram, não existiram, viraram pó.
Que papel, ministro Celso de Mello!
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