EDITORIAL ZERO HORA 16/05/2012
A gravidade das denúncias divulgadas agora e o detalhamento de como a fraude foi cometida revoltam não apenas por envolver diretamente um poder do qual a sociedade espera sempre um comportamento irretocável, mas por expor o descaso no trato de recursos tão aguardados pelos cidadãos. Em tese, precatórios seriam dívidas do poder público provenientes de decisões judiciais que entram na fila orçamentária dos Estados para serem pagas no exercício seguinte. A questão é que muitos Estados adotam como norma atrasar os pagamentos, adiando-os continuamente sob as mais diferentes justificativas. Na maioria das vezes, o dinheiro que seria devido é destinado a reforçar o caixa do setor público. Não raramente, pelo que os brasileiros puderam constatar agora, acaba sendo desviado – sem qualquer burocracia e num prazo de tempo recorde – para bolsos indevidos, numa prova da total falta de controle sobre o seu gerenciamento.
Diante da exposição do episódio registrado no Nordeste, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em nota assinada conjuntamente com o Supremo Tribunal Federal (STF), apressou-se em garantir que o processo sobre o caso já está em andamento e que o julgamento deve ocorrer na próxima semana. Não poderia ser diferente diante da revolta provocada por detalhes revelados pelos denunciantes do esquema. Uma ex-funcionária do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte admite ter investido, juntamente com o marido, em carros, viagens com hospedagem em hotéis de luxo e imóveis de alto valor, num dos quais foram encontrados até mesmo rolos de papel higiênico com estampa de dinheiro europeu. O esbanjamento foi bancado integralmente com os recursos aguardados há anos pelos credores, que muitas vezes acabam morrendo sem conseguir alcançá-los. As verbas desviadas eram compartilhadas entre os responsáveis pela fraude, incluindo dois ex-presidentes do TJ-RN.
Lamentavelmente, o caso atual não é o único desse tipo registrado no país. Por isso, a farra com dinheiro de credores no Rio Grande do Norte não exige apenas a responsabilização dos culpados e a devolução dos valores, mas ajuda a reforçar a necessidade de maior transparência na sua administração.
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