Revista Consultor Jurídico, 25 de novembro de 2012
Novo rumo. De Sanctis elogia mudança de viés do Supremo
O
desembargador federal Fausto Martin De Sanctis, 48, que atua no TRF-3,
concedeu entrevista à Folha de S.Paulo deste domingo (25/11). Ele disse
que há uma "mudança de viés" do Supremo Tribunal Federal no julgamento
do mensalão. Em outubro, o desembargador falou à ConJur sobre os dilemas
enfrentados pelo STF na Ação Penal 470 e enalteceu as novas abordagens da corte.
À
Folha De Sanctis afirmou ainda que o tempo de tramitação do processo do
mensalão, que chegará a oito anos em 2013, indica "a falência" do foro
por prerrogativa de função.
Ele acaba de passar oito meses nos
EUA, onde fez pesquisa sobre lavagem de dinheiro no mercado de artes e
deu palestras a convite de um centro de estudos jurídicos vinculado à
Suprema Corte norte-americana.
Leia a entrevista:
Folha — Qual a repercussão do julgamento do mensalão no meio jurídico dos EUA?
Fausto Martin De Sanctis — A primeira coisa que surpreende nos EUA é o
tempo de julgamento. Eles consideram inaceitável um julgamento demorar
sete anos, um julgamento de primeira instância, como seria nos EUA,
porque lá não há foro por prerrogativa de função [para casos como os
julgados no mensalão]. Sempre achei inaceitável o foro de prerrogativa
porque atenta à democracia, é um julgamento privilegiado. E totalmente
ineficaz. O mensalão provou que o foro é um sistema falido.
Por que o mensalão é sinal de falência do sistema?
Eles [juízes nos EUA] perguntaram: 'Por que demorou tanto?' Eu falei
que o Supremo está sobrecarregado, existem 200 milhões de processos no
Brasil. A corte não tem condições, não quero dizer capacidade
intelectual, digo que não tem condições de fazer face a essa demanda.
Qual seria o tempo razoável?
Um ano, um ano e meio.
Mas
alguns ministros disseram que o mensalão só teve a decisão em tempo
recorde para os padrões brasileiros justamente porque tramitou no foro
privilegiado.
É que o brasileiro se conforma com a
ineficiência. Eu não quero confrontar ministros, mas um julgamento de
sete anos para [equivalente a] primeiro grau é lamentável.
O
ministro da Justiça disse há poucos dias que a situação das cadeias é
péssima. Como se falar em penas duras num sistema como esse?
Um estudo do Banco Mundial revelou que a situação das cadeias no mundo
reflete o nível econômico e social mais inferior da população. O que se
poderia esperar de um país como o Brasil, em que boa parte da população
sobrevive em favelas e à margem da economia formal?
E do ponto de vista do mérito, o julgamento do mensalão é um divisor de águas? Que mensagem ele manda aos corruptos?
É visível a necessidade de experiência na Justiça criminal por parte
dos juízes. Deixa claro que quando a corte decide como corte de primeira
instância, que é como estão fazendo, o viés muda, e acaba ratificando e
compreendendo muitas decisões tomadas pelas varas especializadas.
Em que sentido mudou o viés?
Os ministros agora estão adotando um pragmatismo jurídico. [Antes] eles
decidiam levando em consideração a abstração dos valores
constitucionais, mas agora, atuando de forma equivalente aos juízes de
primeiro grau, levam também em consideração a realidade dos fatos
concretos.
Quais são os buracos da nova lei de lavagem de dinheiro?
Incluíram na lei [a previsão de] que nenhuma medida pode ser tomada
depois da extinção da punibilidade do crime antecedente. Isso é um erro
grave. O dinheiro obtido ilicitamente jamais pode permanecer com o
criminoso, ou com os sucessores do criminoso. E a lei agora estabeleceu
isso. Lavagem nada mais é do que máquina de realização de mais e mais
crimes. Lavagem é a perpetuação do crime organizado.
O que ocorre hoje em São Paulo com a morte dos policiais e suspeitos, do que se trata?
A certeza da impunidade. Acho que hoje o policial brasileiro está
totalmente abandonado. O policial não tem nenhuma estrutura de apoio
institucional. O policial é massacrado. O policial é malvisto. E o
policial não é só um policial, ele representa a sociedade. O que está
acontecendo é uma guerra civil.
Por outro lado, não se abre o risco de extermínio de suspeitos? Como lidar com os excessos da polícia nesse quadro de guerra?
Quando se está em guerra, se está em guerra. Então os excessos vão
existir. O que acontece no Brasil é que se fecham os olhos à guerra.
Agora, não quero referendar excessos, pelo amor de Deus. Acho o
seguinte: estamos tratando de guerra, e guerra tem que ter legislação de
guerra. E cadê a legislação? O crime organizado está tomando conta de
tudo.
O STJ considerou, em votação na turma, que as provas
colhidas durante a Operação Satiagraha são ilegais. Qual sua reação, as
provas são ilegais? O TRF não havia considerado válidas essas mesmas
provas?
De fato, o tribunal considerou válidas. Mas eu não
posso falar sobre esse fato concreto, isso ainda deverá ser objeto de
apreciação pelo Supremo, em recurso.
O dia em que a Justiça Brasileira se tornar sistêmica, independente, ágil e coativa, e com Tribunais fortes e juízes próximos do cidadão e dos delitos, o Brasil terá justiça, segurança e paz social.
"A Função Precípua da Justiça é a aplicação coativa da Lei aos litigantes" (Hely Lopes Meirelles)- "A Autoridade da Justiça é moral e sustenta-se pela moralidade de suas decisões" (Rui Barbosa)
MAZELAS DA JUSTIÇA
Neste blog você vai conhecer as mazelas que impedem a JUSTIÇA BRASILEIRA de desembainhar a espada da severidade da justiça para cumprir sua função precípua da aplicação coativa das leis para que as leis, o direito, a justiça, as instituições e a autoridade sejam respeitadas. Sem justiça, as leis não são aplicadas e deixam de existir na prática. Sem justiça, qualquer nação democrática capitula diante de ditadores, corruptos, traficantes, mafiosos, rebeldes, justiceiros, imorais e oportunistas. Está na hora da Justiça exercer seus deveres para com o povo, praticar suas virtudes e fazer respeitar as leis e o direito neste país. Só uma justiça forte, coativa, proba, célere, séria, confiável, envolvida como Poder de Estado constituído, integrada ao Sistema de Justiça Criminal e comprometida com o Estado Democrático de Direito, será capaz de defender e garantir a vida humana, os direitos, os bens públicos, a moralidade, a igualdade, os princípios, os valores, a ordem pública e o direito de todos à segurança pública.
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