ZERO HORA 24 de maio de 2013 | N° 17442
DAVID COIMBRA
Estou curioso para descobrir o que você vai fazer com a informação de que o desembargador Alberico ganha R$ 17.770,00 por mês. Você, eu, todos nós ficamos sabendo das minúcias da renda do desembargador Alberico desde que a imprensa publicou os nomes e os salários correspondentes dos desembargadores do RS, semana passada. Saberemos mais: a imprensa está prestes a publicar nomes e salários de outros servidores, deputados, juízes, sabe-se lá quem mais. Li que isso é transparência e que é muito bom para a democracia. Por que será?
Eu, como contribuinte, entendo que deva saber quanto pago para os funcionários públicos, o salário máximo e o mínimo, a média salarial, tudo isso. Porque, ao fim e ao cabo, o contribuinte é o patrão do servidor público, ele tem de saber se está pagando muito ou pouco. Mas por que saber os nomes? Qual o sentido da publicação dessa informação? Saber o salário não bastaria? É preciso associá-lo a quem recebe?
O que senti, ao ver no jornal a lista dos desembargadores com seus nomes e salários discriminados, foi constrangimento. Parecia uma denúncia: veja quanto ganha o desembargador Alberico: 17 mil! E você ganha só mil e quinhentos... Ele é culpado por você ganhar só mil e quinhentos!
Aí você sai à rua, olha para o desembargador Alberico empurrando carrinho no supermercado e cospe nele: 17 mil! Que vergonha!
É uma idiossincrasia nacional pensar assim. Se você tem, não é porque merece ter; é porque tirou de alguém que ficou sem. Só há dois tipos de brasileiros: os espoliados honestos e os exploradores ladrões.
Você, na empresa em que você trabalha, digamos que você ganhe R$ 10 mil por mês. Um bom salário. Mas você tem outros 20 colegas que ganham o dobro, R$ 20 mil por mês. Você não consegue trabalhar direito ao pensar nisso, você fica furioso, reclama com a chefia, talvez recorra à Justiça.
Certo.
Então você sai dessa empresa injusta e vai para outra, onde não ganha R$ 10 mil, mas R$ 5 mil. Só que seus 20 colegas nessa nova empresa ganham a metade disso, R$ 2,5 mil. Você fica feliz, se enche de orgulho e não conta para ninguém qual é o seu salário, com medo da inveja corrosiva.
Aparentemente, se você está numa empresa em que todos ganham mais, você tem espaço para crescer e ganhar mais também. Ao contrário, se na sua empresa todos ganham menos do que você, você não tem mais como subir. No entanto, você prefere estar no topo, ainda que o topo aqui signifique menos do que a base lá. Veja como você é... Ainda bem que você pode sair à rua e cuspir naquele desembargador Alberico e seus R$ 17 mil. Maldito desembargador Alberico!
DAVID COIMBRA
Estou curioso para descobrir o que você vai fazer com a informação de que o desembargador Alberico ganha R$ 17.770,00 por mês. Você, eu, todos nós ficamos sabendo das minúcias da renda do desembargador Alberico desde que a imprensa publicou os nomes e os salários correspondentes dos desembargadores do RS, semana passada. Saberemos mais: a imprensa está prestes a publicar nomes e salários de outros servidores, deputados, juízes, sabe-se lá quem mais. Li que isso é transparência e que é muito bom para a democracia. Por que será?
Eu, como contribuinte, entendo que deva saber quanto pago para os funcionários públicos, o salário máximo e o mínimo, a média salarial, tudo isso. Porque, ao fim e ao cabo, o contribuinte é o patrão do servidor público, ele tem de saber se está pagando muito ou pouco. Mas por que saber os nomes? Qual o sentido da publicação dessa informação? Saber o salário não bastaria? É preciso associá-lo a quem recebe?
O que senti, ao ver no jornal a lista dos desembargadores com seus nomes e salários discriminados, foi constrangimento. Parecia uma denúncia: veja quanto ganha o desembargador Alberico: 17 mil! E você ganha só mil e quinhentos... Ele é culpado por você ganhar só mil e quinhentos!
Aí você sai à rua, olha para o desembargador Alberico empurrando carrinho no supermercado e cospe nele: 17 mil! Que vergonha!
É uma idiossincrasia nacional pensar assim. Se você tem, não é porque merece ter; é porque tirou de alguém que ficou sem. Só há dois tipos de brasileiros: os espoliados honestos e os exploradores ladrões.
Você, na empresa em que você trabalha, digamos que você ganhe R$ 10 mil por mês. Um bom salário. Mas você tem outros 20 colegas que ganham o dobro, R$ 20 mil por mês. Você não consegue trabalhar direito ao pensar nisso, você fica furioso, reclama com a chefia, talvez recorra à Justiça.
Certo.
Então você sai dessa empresa injusta e vai para outra, onde não ganha R$ 10 mil, mas R$ 5 mil. Só que seus 20 colegas nessa nova empresa ganham a metade disso, R$ 2,5 mil. Você fica feliz, se enche de orgulho e não conta para ninguém qual é o seu salário, com medo da inveja corrosiva.
Aparentemente, se você está numa empresa em que todos ganham mais, você tem espaço para crescer e ganhar mais também. Ao contrário, se na sua empresa todos ganham menos do que você, você não tem mais como subir. No entanto, você prefere estar no topo, ainda que o topo aqui signifique menos do que a base lá. Veja como você é... Ainda bem que você pode sair à rua e cuspir naquele desembargador Alberico e seus R$ 17 mil. Maldito desembargador Alberico!
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Certamento, o Coimbra está olhando para o prisma da inveja onde o cargo menos aquinhoado fica feliz em puxar o cargo superior com salários maiores para baixo, do que lutar para receber mais e assim se aproximar do cargo superior. Ocorro que há distorções e diferenças enormes entre cargos assemelhados do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Há cargos de direção, assessoria e até de execução com requisitos mínimos que recebem salários bem maiores do que os recebidos por cargos de direção e servidores graduados do Poder Executivo. Existem também uma desarmonia entre os poderes fomentadas pela discriminação de tratamento, especialmente quando se trata de valores indenizatórios, auxílios, vantagens, etc. A transparência tem sua importância ao revelar estas distorções e imoralidades consumadas pelo direito adquirido e por medidas que atendem apenas um ou outro poder, muitas vezes mascaradas na relação parcial.
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