João Gomes Mariante
Os seres humanos que integram a geração contemporânea estão se desvestindo da púrpura que, entre outros ornamentos régios, simboliza o culto à honestidade, à ética e à retilínea soberania dos magistrados. Não só aquela roupagem abandonada teve seu fim, como o destino da toga dos magistrados, felizmente em casos restritos, está palmilhando a mesma trilha. Os habitantes atuais do universo em que vivemos estão aposentando celeremente a dignidade, o proceder ético, a seriedade, a respeitabilidade, que se consubstanciaram em uma conduta abominável de índole exterminadora, destinada a eliminar as conquistas mais diferenciadas da civilização, entre elas, a moral e a ética, que a um tempo prevaleceram. Encampamos a impressão de que a honra e o decoro desapareceram por completo do mapa espiritual da humanidade.
A corrupção, a desonestidade, o fisiologismo atingiram cifras tão altas que se tornaram imanentes à condição de endemia nacional. A insidiosa enfermidade, resistente a qualquer medicação e ausente de uma postura ilibada e de compostura e, até mesmo, do sentimento de vergonha torna-se alarmante e deprimente, como jamais se presenciou. No setor dos trabalhos públicos, mais do que no dos privados, os desvios de dotações orçamentárias tornaram-se praxe institucional.
A consideração, a preocupação, o acatamento pelo registro da história tornaram-se inexistentes ao homem do século – alheio, anestesiado e alienado. Destituído de normas éticas e de condutas caracterizáveis como superiores, assumiu o teor do desprezo. O conceito de sua biografia, consignada na história, o que revela um profundo menosprezo por si mesmo e pela desconsideração dos seus semelhantes, vê-se reprovada por seus descendentes que, colocados frente aos anátemas revelados, tendem a se envergonhar pela herança imoral de seus antepassados. Herança essa catalisada na desonestidade como norma e conduta, já cronificada, indigna e imanente. O certo é que somos passageiros de um navio sem leme nem bússola, à mercê de um comando que, diante da escuridão do firmamento, não consegue espelhar-se na carta das estrelas.
Psicanalista
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